sábado, 9 de julho de 2011

UMA ABORDAGEM GRAMÁTICAL E ANTROPOLÓGICA DA EPISTEMOLOGIA EXISTENCIAL HUMANA


UMA ABORDAGEM GRAMÁTICAL E ANTROPOLÓGICA DA EPISTEMOLOGIA EXISTENCIAL HUMANA
Luciano Gomes da Silva*


INTRODUÇÃO

Ao nos depararmos coma a celebre frase: Cogito, ergo sum significa "penso, logo existo"; ou ainda Dubito, ergo cogito, ergo sum: "Eu duvido, logo penso, logo existo" Que foi a conclusão do filósofo e matemático francês Descartes alcança após duvidar de sua própria existência, mas a comprova ao ver que pode pensar e se está sujeito a tal condição, deve de alguma forma existir. Nos desafiamos quase que diariamente em nossas devocionais, púpitos e seminários e exclarecer alguns pontos da existência humana, é matéria de interesse e estudo nosso, é matéria de estudo o homem; a própria ciação em sí já infere o interesse de Deus nesta criatura criada a sua imagem e semelhança, é por isto que a nossa teologia e todo o princípio epistemológico da antropologia humana justifica a relevância do nosso estudo do homem fato este definido por Louis Berkhof:
A transição da teologia para a antropologia, isto é, do estudo de Deus para o estudo do homem, é natural. O homem não é somente a coroa da criação, mas também é objeto de um especial cuidado de Deus. E a revelação de Deus na Escritura é uma revelação dada não somente ao homem, mas na qual o homem é de interesse vital. Não é uma revelação de Deus no abstrato, mas uma revelação de Deus em relacão às Suas criaturas, e particularmente em relação ao homem. É um registro dos procedimentos de Deus par com a raça humana, e especialmente uma revelação da redenção que Deus preparou para o homem e para a qual Deus procura preparar o homem. Isto explica por que o homem ocupa um lugar de central de importância na escritura, e por que o conhecimento do homem em relação a Deus é essencial para entende-la adequadamente. A doutrina do homem deve seguir-se imediatamente à de Deus, dado que o conhecimento dela é pressuposto em todos os subseqüentes loci da dogmática....A antropologia teológica ocupa-se unicamente do que a Bíblia diz a respeito do homem e da relação em que ele está e deve estar com Deus. Ela só reconhece a Escritura como a sua fonte, e examina os ensinamentos da experiência humana à luz da palavra de Deus [BERKHOLF, Louis-Teologia Sistemática,2000, p.172]
Em quanto que Descartes pretendia fundamentar o conhecimento humano em bases sólidas e seguras (em comparação com as fundamentações do conhecimento medievais). Para tanto, questionou e colocou em dúvida todo o conhecimento aceito como correto e verdadeiro (utilizando-se assim do ceticismo como método, sem, no entanto, assumir uma posição cética). Ao pôr em dúvida todo o conhecimento que, então, julgava ter, concluiu que apenas poderia ter certeza que duvidava. Se duvidava, necessariamente então também pensava, e se pensava necessariamente existia (sinteticamente: se duvido, penso; se penso, logo existo). Por meio de um complexo raciocínio baseado em premissas e conclusões logicamente necessárias, Descartes então concluiu que podia ter certeza de que existia porque pensava.Esta foi à conclusão de Descartes acerca da existência humana, porém não é tão simples assim.

1 - ORIGEM BÍBLICA E CONCEITUAL DA ALMA COMO EXISTENTE NA NATUREZA HUMANA

O homem segundo a perspectiva bíblica no seu tyvarb, ou seja, no seu princípio foi criado por Deus e lhe foi imputado à essência vital para manutenção da sua vida denominada de vpn néfesh “Alma”: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.” (Gn.2:7). Note a estatística contextualizada do termo nas citações:
As Vesões tradicionais da Bíblia traduzem via de regra por “alma” uma palavra fundamental da antroplogia veterotestamentária: vpn [néfesh]. Como no francês, ame, e no inglês, soul, elas lançam mão da tradução mais freqüente de npv por  [psyché] na bíblia grega. E por anima na latina. Npv aparece 755 vezes no Antigo testamento, a septuaginta traduz seiscentas vezes por [WOLFF, Hans Walter - Antropologia do Antigo Testamento, 2008, p.29]
Embora este uso quase que definitório que em via de regra segundo Hans Wolff define para compreensão de npv “Alma” deva ser relevante para a compreensão antropológica; se faz necessário esclarecer que a dificuldade reside em que os significados popularmente atribuídos à palavra portuguesa “alma” provêm primariamente, não das Escrituras Hebraicas ou das Gregas Cristãs, mas da antiga filosofia grega, na realidade, do pensamento religioso pagão. Platão, o filósofo grego, por exemplo, cita Sócrates como dizendo:
“A alma . . . se ela partir pura, não arrastando consigo nada do corpo, . . . parte para o que é como ela mesma, para o invisível, divino, imortal e sábio, e quando chega ali, ela é feliz, liberta do erro, e da tolice, e do medo . . . e de todos os outros males humanos, e . . . vive em verdade por todo o porvir com os deuses.” [Phaedo (Fédon), 80, D, E; 81, A.]
Alma é um termo que deriva do latim anǐma, este refere-se ao princípio que dá movimento ao que é vivo, o que é animado ou o que faz mover. De anǐma, derivam diversas palavras tais como: animal (em latim, animalia), animador. Portanto compreendermos o que o escritor do Gênesis quer dizer com “alma vivente” é poder antropologicamente redefinir a existência do homem, suas relações sociais seu conceito de Deus e suas necessidades vitais.

2 - APRECIAÇÃO ANTROPOLÓGICA DO “EU” HOMEM

Partiremos da 1ª premissa e definiremos quem é o homem? A filosofia diz que: “O homem é a medida exata de todas as coisas.” A bíblia diz que o homem é a imagem e semelhança de Deus. O ser do homem no sentido da sua essência tem necessidades inatas da sua própria criação, a definição de vpn, por exemplo, nos dá uma dimensão do que este homem possui em seu cerne diversas definições, vpn significa: garganta, pescoço, anelo, alma, vida.
Em busca da definição aplicada ao texto precisamos de uma forma análoga observar os textos que tratam do significado epistemológico aplicado a cada contexto. O pensamento semítico quando intencionalmente transmitiu a idéia de alma não a limitou inferir a alguma parte do corpo humano necessitado. Precisamos observar também se a inferência a determinado aspecto do ser humano é definido com clareza. È necessário ter em mente o conceito bíblico descrito pelo autor hebreu em suas diversas esferas sociais e gramaticais correspondente ao contexto em foco. Por exemplo: Isaias 5:14: “Por isso a sepultura aumentou o seu apetite, e abriu a sua npv (boca) desmesuradamente...” Se observarmos o princípio semântico da coesão e/ou coerência textual indubitavelmente não aplicaremos a tradução da palavra alma neste contexto, pois aqui vpn está explicito que significa boca, goela, garganta, neste caso designa o órgão da ingestão de alimentos . O fato inconteste do qual nos deparamos é que muitas das aplicações da palavra alma nas traduções não ressaltam com precisão a riqueza semântica revelada no texto, todavia não se devem remover anos de tradição gramatical, em detrimento de uma intencionalidade que subjetivamente está intrínseca no texto, ou seja, a intenção do escritor está lá no texto cabe-nos descobri-la. Sobre a definição da tradução que em via de regra vpn é conclusivamente aplicada à alma se nos diz:
“Hoje podemos concluir que em muito poucas passagens à tradução dessa palavra por “alma” corresponde ao significado vpn. Entretanto, não podemos excluir, sem mais nem menos, um uso quase definitório da palavra hebraica para compreensão do ser humano. ”[ WOLFF, Hans Walter - Antropologia do Antigo Testamento, 2008, p.34]

Esta essência vital na formação do homem descrita em Gn. 2:7 , portanto o define com um ser necessitado, o homem que Deus criou foi feito com uma npv vivente, Deus o fez dependente dEle, para nosso próprio bem Deus nos subordinou as necessidades a uma “alma” cheia de fome e de sede dEle, isto redefine o homem, lhe transporta novamente a pergunta inicial: “Quem é o homem? Poderíamos a partir desta redefinição de vpn afirmar: É um ser essencialmente dependente de Deus em todas as áreas. Sua boca, garganta, goela tem necessidades de ingestão de alimentos, a doutrina da providência demonstra como a provisão de Deus é essencial para manutenção da vpn do homem: “Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua benignidade,para os livrar da morte, e para os conservar vivos na fome.” (Sl 33:18-19). A partir da redefinição do homem como um ser essencialmente necessitado partiremos para a 2ª premissa onde definiremos qual as necessidades da npv deste homem?

3 – ANÁLISE DA npv DO HOMEM E SUA RELAÇÃO COM AS NECESSIDADES DO CORPO

O homem que foi criado segundo as escrituras do pó da terra possui em sua constituição uma união vital com o corpo material organizado e que esta relação entre os dois é uma união vital , no sentido que a alma é afonte de vida para o corpo.isto evidencia-se através da morte física como um processo natural em que o homem ao morrer perde sua sensibilidade e atividade estando imediatamente sujeito às leis químicas que governam a matéria desorganizada, e pela operação dessas leis o corpo se reduz a pó. As conotações que a palavra portuguesa “alma” geralmente transmitem à mente da maioria das pessoas não estão de acordo com o significado das palavras hebraica e grega usadas pelos inspirados escritores bíblicos.
“A Bíblia não diz que temos uma alma. ‘Nefesh’ é a própria pessoa, sua necessidade de alimento, o próprio sangue nas suas veias, seu ser.”[ The New York Times, 12 de outubro de 1962-tradução minha do artigo]
Néfeshvpn é um termo de muito maior extensão do que nossa ‘alma’, significando vida (Êx 21.23; Dt 19.21) e suas várias manifestações vitais: respiração (Gn 35.18; Jó 41.13[21] ), sangue (Gn 9.4; Dt 12.23; Sl 140(141).8 , desejo (2 Sm 3.21; Pr 23.2). A alma no Antigo Testamento significa, não uma parte do homem, mas o homem inteiro o homem como ser vivente. Similarmente, no Novo Testamento significa vida humana: a vida duma entidade individual, consciente (Mt 2.20; 6.25; Lu 12.22-23; 14.26; Jo 10.11, 15, 17; 13.37). Hans Wolff define em sete signficados ligados a relação da alma com as necessidades do corpo: 1.Garganta, 2.Pescoço, 3.Anelo, 4.Alma, 5.Vida, 6.Pessoa, 7.Pronome. todas estes correspondentes apontam para o homem como sendo um ser essencialmente necessitado em/do corpo.

CONCLUSÃO


As conotações que o termo "alma" geralmente transmite à mente da maioria das pessoas provêm primariamente, não do uso dos escritores bíblicos, mas da antiga filosofia grega. Os antigos escritores gregos aplicavam psykhé de vários modos, e não eram coerentes, suas filosofias pessoais e religiosas influenciando seu uso do termo. Segundo o léxico grego-português, fornece definições tais como: Alma,vida, e reconheçe que frequentemente é impossível traçar limites claros e definidos sobre esta expressão todavia surgere "o Eu consciente" ou "ser vivente (humano ou animal)". O termo hebraico para alma vpn num sentido literal, exprime a idéia de um "ser que respira" e cuja vida é sustentada pelo sangue. Fica evidente que provém duma raiz que significa “respirar”, e, num sentido literal, vpn poderia ser traduzido como “alguém que respira”. O Lexicon in Veteris Testamenti Libros o define:
“A substância respiradora, que torna o homem e o animal seres viventes Gn 1,20 , a alma (estritamente distinta da noção grega da alma), cuja sede é o sangue Gn 9,4ss Lv 17,11 Dt 12,23 : (249 X) . . . alma = ser vivente, indivíduo, pessoa.”[ O Lexicon in Veteris Testamenti Libros, Koehler e Baumgartner, 1958, p. 627]
“Seja qual for à definição sugerida, o entendimento claro que deve permanecer sobre o significado da expressão alma vivente.” (Gn.2:7). Redefine o homem mais que formado por duas partes distintas, significa que o homem como imagem e semelhança do criador foi feito uma vpn, , um ser em sua composição única e completa posto em um sistema global sustentado e governado por um Deus cuidadoso e zeloso que o crio com um ùnico propósito:
“O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.”[Breve catecismo de Westminster,Leonard T. Van Horn, 2000, p.7)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BÍBLIA SAGRADA. Bíblia de estudo de Genebra.
WOLFF, Hans Walter - Antropologia do Antigo Testamento, 2008, p.34.
HODGE, Chales, Teologia Sistemática, Hagnos, 2001.
BERKHOLF, Louis, Teologia Sistemática, 2000, p.172.
WILBUR, F.Gingrich, Léxico do Novo testamento, Vida Nova, 2007, p.226.
KOEHLER E BAUMGARTNER, O Lexicon in Veteris Testamenti Libros, 1958, p. 627.
T. VAN HORN,Leonard,Breve catecismo de Westminster,Puritanos, 2000, p.7.


*O Rev. Luciano Gomes da Silva é Ministro da Igreja Presbiteriana Fundamentalista do Brasil e aluno do curso de Pós-Graduação em Teologia Exegética do SPN.e aluno do Curso de Letras pela faculdade São Miguel

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