quinta-feira, 21 de julho de 2011

Afinal, Por que Incomodamos Tanto Ainda?


“Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”. Mateus 5.10

Beati qui persecutionem patiuntur propter iustitiam
quoniam ipsorum est regnum caelorum
(Mt. 5:10 na vulgata latina).

Afinal, Por que Incomodamos Tanto Ainda?

Já se passaram nove anos desde que um artigo do saudoso Rev. João Paulo foi publicado com este questionamento, no ano de 2002 para ser mais preciso; esta contestação elencada por ele foi motivada por um fato ocorrido na ocasião de uma conferência teológica realizada na 1ª Igreja Presbiteriana do Recife nos dias 10 e 11 de Maio do mesmo ano. Eu ainda era seminarista na ocasião e dentre muitas recordações esta eu jamais esqueci, pois diante de um público seleto de pastores, teólogos e membros de outras igrejas e denominações ouvimos na abertura das conferências as seguintes palavras do Rev, Marcos Lins presidente do Presbitério da IPB: “A posição oficial da IPB com relação ao movimento fundamentalista é de equidistância! O movimento fundamentalista é nocivo às igrejas ortodoxas, tão nocivo quanto o liberalismo!”

Imaginem o choque e todo aquele constrangimento que os seminaristas naquela ocasião passaram, eu confesso que naquele instante senti vontade de desaparecer dado o desconforto causado pela imprudente afirmação. Um misto de aversão por aquela tão injusta acepção, ao mesmo tempo um sentimento de bem aventurança por poder sofrer tal afronta por amor a Cristo, e amor a minha amada denominação, oxalá que pudéssemos naquele instante dizer como o apóstolo Paulo: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo”. (II Co 12:12ª).

Mais o que significa sentir prazer mesmo com o infortúnio gerado pelas perseguições? Conforme diz o texto na vulgata latina estar “beatus” que traduzido em latim significa: “Bem aventurado, feliz e estar em um estado de graça”. Ainda que nós Presbiterianos Fundamentalista, nos sintamos perseguidos, injuriados e formos objeto de calúnia e difamação por defendermos os fundamentos da Palavra de Deus, a nossa reação a estas declarações mesmo com todo o desconforto e constrangimento que elas causem deve ser semelhante a do apóstolo Paulo; ao invés de nos acuarmos assustados como alguém que sofre de complexo de inferioridade, devemos sentirmo-nos em um estado de graça por ser perseguido por defender aquilo que acreditamos, ser perseguido por causa da justiça é ser perseguido por aquilo que vale a pena defender, ser perseguido por causa da justiça é ter a consciência em paz com Deus por zelar pela sua Palavra, é ter um espírito semelhante a Cristo como ele mesmo disse: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt. 11:29). Defender seu ponto de vista sem ofender a pessoas, sem caluniar as instituições cristãs sérias e comprometidas com a Palavra de Deus este é um ensinamento constantemente negligenciado em nossos dias.

Que lastimável! Que ainda hoje tais homens de Deus que deveriam zelar pela pureza e unidade da igreja do Senhor estão quebrando deliberadamente com este ensinamento de Jesus, não acredito que classificar uma denominação histórica e séria coma a IPF de forma leviana como nociva, seja uma postura humilde ou mansa. O que tenho observado é que o tom iracundo dos nossos opositores denota uma agressividade e força desproporcional, tendo em vista que nossa pequena denominação contribuiu e tem contribuído até hoje ao presbiterianismo com uma relevante e concisa defesa da fé bíblica e que não assombra nem ameaça as gigantes como a IPB. Como podemos associar as ríspidas aversões de equidistância daqueles que se intitulam nossos irmãos com a mansidão ensinada por Cristo? Parece-nos que isto é uma contradição de termos, pois não há nenhuma mansidão nas calúnias e difamação que recebemos é nisto que configura uma contradição da prática cristã e a ortodoxia cristã.

Outra ofensiva direta a denominação Presbiteriana Fundamentalista foi desferida pelo artigo publicado na revista Fides Reformata Et Semper Reformanda Est. (volume IV número I) no ano de 2001 pelo Rev. Guilhermino Cunha, presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil na ocasião, sob o título "Os Herdeiros da Carl Mcintire". Notem como o Rev. João Paulo chama atenção de como a forma sutil deste artigo inclina-se a caluniar a denominação:

“Quero sim chamar a atenção para o tom iracundo e agressivo do artigo, um tom de quem se sente ameaçado, de quem não consegue esconder o desconforto ante a existência e as manifestações, mesmo que quase inaudíveis e imperceptíveis daquele a quem ataca. No artigo o Rev. Guilhermino Cunha acusa levianamente ministros de Deus de terem sido veniais quando da divisão da IPB - IPFB. A divisão ele atribui a motivos pessoais e menores desses líderes e não aos problemas doutrinários no sistema de ensino teológico da IPB, que realmente provocaram a separação. Indo mais além relaciona-os com o ato e o caráter de Judas Iscariotes. Acusa os fundamentalistas de serem obtusos intelectualmente e fanáticos que ao invés da razão usam a força para expressar suas posições. Termina sua obra prima com um indisfarçável (embora ele tenha tentado disfarçar) tripudiar regozijado pela desgraça em que caiu o Rev. Carl Mcintire, que o autor chama de "pastor" entre aspas, nos últimos anos da sua longa vida.” (Afinal, por que incomodamos tanto? Publicação de um artigo pelo Rev. João Paulo que circulou no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil, disponível em:http://www.reformadosr.blogspot.com/).

Entretanto algumas posições equilibradas convêm citar, o capítulo 29 do livro do Rev. Augustus Nicodemus Lopes “O que estão fazendo com a igreja” sob o título Fundamentalistas e liberais, ele diz: “Contudo, no geral, acho que posso dizer que os fundamentalistas teológicos não fariam feio numa pesquisa de opinião sobre o que crêem os evangélicos brasileiros. Por este motivo, e por achar que o assim chamado fundamentalismo teológico é simplesmente outro nome para a fé histórica, não fico envergonhado quando me rotulam dessa forma, embora prefira o termo calvinista ou reformado.” ( O que estão fazendo com a igreja - Augustus Nicodemus Lopes-2008-Mundo cristão-p.183-186)

Eu não entendo a razão para o complexo de Édipo de alguns ministros fundamentalistas, se o grande doutor Augustus Nicodemus que não é fundamentalista não se incomoda com o rótulo que é nosso por que nos envergonharíamos nós dele? Ainda em seu blog o Reverendo Augustus reafirma a sua opinião sobre o fundamentalismo no artigo intitulado “Um Credo para os Fundamentalistas” nos seguintes termos: “É só uma sugestão. Acho que posso sugerir, pois fui criado numa denominação fundamentalista e mesmo que não pertença a ela hoje, continuo a ser chamado assim. Portanto, segundo meus críticos, devo entender razoavelmente do assunto”.(disponível em: http://tempora-mores.blogspot.com/)

Ataques hostis diretos e indiretos quanto ao uso do termo fundamentalista, por exemplo, merecem atenção do prof. Ulisses Horta, notem como ele protesta contra a legitimidade do uso deste termo e até mesmo o preconceito por parte de alguns: “Uma nota de esclarecimento é ainda válida: Hoje, no Brasil, há uma considerável confusão com o termo fundamentalismo. O mesmo vem sendo utilizado indiscriminadamente, sem deixar ao ouvinte ou leitor a verdadeira identificação que cabe no uso, de acordo com as intenções daquele que o utiliza”. (A Subscrição Confessional – Ulisses Horta Simões – Ed. Efrata – 2002. P. 141 e 142)

Além da ilegitimidade do uso do termo algo ainda pior e que denota um explicito preconceito é o que o prof. Ulisses chama de estelionato hermenêutico, por que muitos associam o termo fundamentalista ao “radicalismo obscurantista”; ele diz: “Pior da forma como muitos usam hoje, ser fundamentalista pode parecer simplesmente ser radical obscurantista ou coisa que valha; como se o vocábulo somente permitisse tal inclinação semântica. É um grave erro, um estelionato hermenêutico.”

Que tempos esses nossos! Após nove anos os ataques austeros dos inimigos do fundamentalismo,atualmente eles se acentuaram, hoje seus ataques apoplécticos (irritado, acalorado) vieram no presente via internet com artigos publicados em blogs e comunidades do Orkut, com alguns títulos nada humildes como: Fundamentalismo utópico, fundamentalismo morto! Entre outros. A pergunta do Rev. João Paulo ainda ecoa em nossos corações: Afinal, por que incomodamos tanto? Existe uma expressão muito conhecida nossa que é a seguinte: “Lignumque faciens fructum, omnis dolor petram” Que traduzida do latim diz: Árvore que dá fruto, todo mundo joga pedra. Esta premissa é verdadeira também quando se refere ao crescimento da nossa amada IPF do Brasil, é fato que ele ainda é tímido se comparado com as outras denominações históricas, este fato torna ainda mais incompreensível a indagação que fizemos se somos uma denominação tão inexpressiva no cenário presbiteriano nacional qual a razão para tanta aversão? Qual o motivo de tanto incômodo? Por que somos tão criticados? Por que tantas calúnias? Talvez a resposta esteja exatamente no texto bíblico oficial da nossa denominação: “Batalhando diligentemente pela fé que uma vez por todos foi entregue aos Santos”.

As bem aventuranças proferidas por Jesus didaticamente não ensinam uma doutrina passiva, Cristo não ensinou nem tencionou dizer com este texto que os discípulos deveriam se contentar com as perseguições por causa da justiça e morrem calados a espera de uma recompensa no céu; muito pelo contrário eles deveriam de forma ativa batalhar pela fé ainda que o resultado disto fosse perseguição. Muitos foram os servos do Senhor que foram perseguidos por batalhar, por lutar, por defender aquilo que acreditavam a começar do diácono Estevão que foi apedrejado por uma multidão enfurecida (At. 6 e 7); em 1410 John Huss, condenado pelo Concílio de Constância antes de morrer foi queimado numa fogueira por causa de sua fé em Cristo, bradou: “Hoje vocês matam o ganso (huss significa ganso na língua boemia), mas daqui a cem anos nascerá um cisne que não poderão matar”. Comumente atribui-se o Cisne ao grande reformador Lutero, que nasceu cem anos depois e promoveu a Reforma Protestante na Alemanha em 1517. Em 21 de março de 1556 Tomás Cranmer reformador inglês foi forçado pela autoridade papal a fazer uma declaração publica renegando todo seu ensino que contrariava a teologia da igreja romana, após negar-se a fazer tal declaração e dizer: “E sobre o Papa, eu o recuso, como inimigo de Cristo e Anticristo, com toda sua falsa doutrina." Foi levado à fogueira.

Isto tudo nos leva a um estado de perplexidade semelhante a do Paulo: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos.” (II Co. 4:8 e 9). Estas perseguições tornam-se ainda mais incompreensíveis quando constatamos que ela vem de dentro da própria comunidade cristã. Em suma, devemos estar gratos também a estes "detratores", sobretudo àqueles que têm se manifestado em tom virulento e ofensivo contra nós e quanto aos princípios que defendemos e que embora seus ataques irritados e muitas vezes irracionais em alguns momentos nos entristeçam, também nos reconfortam em nossas escolhas, pois nem sequer nosso último desejo seria agradar a quem quer que sustente qualquer tipo de ideologia injusta, rebelde e aleivosa que macule o bom nome da nossa amada Igreja Presbiteriana Fundamentalista do Brasil, que continuemos a incomodar aos que se opõem a verdade de Deus, que sejamos ainda mais perseguidos por causa da sua justiça e que o Senhor da Igreja Cristo, estabeleça o seu trono de Justiça com disse Calvino: “Que o Senhor, rei dos reis, estabeleça o trono de Sua Majestade na justiça, e seu reino na equidade...”

*Rev. Luciano Gomes da Silva é pastor da Igreja Presbiteriana Fundamentalista do Brasil em Aldeia, Camaragibe, PE. Professor do Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil em Recife. Pós-Graduado em Teologia Exegética pelo Seminário Presbiteriano do Norte e Graduando em Letras pela Faculdade São Miguel.

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Sola Escriptura

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Ser um Cristão reformado é está interessado em se reformar sempre.É prezar pelos princípios da reforma, e estar disposto a adaptar toda a vida e teologia ao exame final das Escritutras.