Tema: Vigiai na batalha pela unidade do Espírito.
Rev. Luciano Gomes
Texto
Base:
"1-Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor,
que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados,2 com toda a
humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
3 esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no
vínculo da paz; 4 há somente um corpo e um Espírito, como também fostes
chamados numa só esperança da vossa vocação; 5 há um só Senhor, uma só
fé, um só batismo; 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age
por meio de todos e está em todos". (Ef.4:1-6)
Introdução:
Creio que este é o
tema mais discutido, e que recebe mais atenção atualmente dentro dos círculos
protestantes, de todas as denominações cristãs no mundo, muitos são os livros
escritos, as conversas informais, as pregações. É ponto pacífico e quase que um
consenso que todos nós concordamos que a igreja Cristã, deve ser uma só, que o
propósito soberano de Deus foi que ela fosse uma só: "Para nós, contudo, há um único Deus, o Pai, de quem
tudo procede e para quem vivemos; em um só Senhor, Jesus Cristo, por intermédio
de quem tudo o há veio a existir, e por meio de quem também vivemos". (I Co. 8:6). O próprio
Senhor Jesus Cristo deu o exemplo análogo desta unidade quando disse: "... Para que sejam um, assim como somos um."
(João 17:11b). E portanto, devemos
concordar que todos nós, devemos não só vigiar, mas batalhar pela unidade
Espírito.
Além
disto, é lastimável que a divisão tenha penetrado na vida da igreja, e mais, é
preciso considerar que o cisma é um pecado grave. No
entanto, é preciso também ponderar o fato de que há uma grande confusão e muito
desacordo, quanto ao que realmente constitui a unidade, quanto a natureza da
unidade, e finalmente como se deve obter e preservar a unidade. Quais
os limites da unidade? A que preço devemos buscar a unidade? Lutero disse: "A paz, se possível, mas a verdade a qualquer
preço". E este deve ser o princípio norteador quanto ao
tema unidade do Espírito. Façamos
algumas considerações:
I. I-NÃO CONFUNDIR
UNIDADE COM ECUMENISMO.
No concílio Vaticano II de 21 de
Novembro de 1964, a igreja Romana formulou um documento(decreto sobre o ecumenismo) conhecido como Unitatis
Redintegratio,
que em latim significa: "Restauração da Unidade" . Neste documento percebemos uma
clara tentativa de ecumenismo, uma tentativa sutil de Satanás em fazer
convergir entre católicos e protestantes pontos doutrinários completamente
antagônicas a fé cristã. Notem nesta leitura do texto original a sutil sedução
da igreja romana em promover uma pseudo-unidade:
Capítulo I: Ruptura da
unidade da Igreja: laços de união entre todos os cristãos
Nesta una e única Igreja de Deus
já desde os primórdios surgiram algumas cisões, que o Apóstolo censura
asperamente como condenáveis. Nos séculos posteriores, porém, originaram-se
dissensões mais amplas. Comunidades não pequenas separaram-se da plena comunhão
da Igreja católica, algumas vezes não sem culpa dos homens dum e doutro lado.
Aqueles, porém, que agora nascem em tais comunidades e são instruídos na fé de
Cristo, não podem ser acusados do pecado da separação, e a Igreja católica
os abraça com fraterna reverência e amor. Pois que crêem em Cristo e foram
devidamente batizados, estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com a
Igreja católica. De fato, as discrepâncias que de vários modos existem
entre eles e a Igreja católica quer em questões doutrinais e às vezes também
disciplinares, quer acerca da estrutura da Igreja criam não poucos obstáculos,
por vezes muito graves, à plena comunhão eclesiástica. O movimento ecumênico
visa a superar estes obstáculos. No entanto, justificados no Batismo pela fé,
são incorporados a Cristo, e, por isso, com direito se honram com o nome de
cristãos e justamente são reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como
irmãos no Senhor.
Destaquei alguns trechos do
documento Unitatis
Redintegratio e notei que
algumas igrejas protestantes caíram na sugestão de Satanás, a exemplo disto vou
citar as palavras de um pastor e cantor evangélico brasileiro conhecido como
André Valadão da igreja Batista da lagoinha Rio de Janeiro, que em um show
gospel junto com a banda de Rock católica Rosa de Saron disse: "... Aos olhos de Deus, somos todos irmãos... O amor
daquele que nos une é mais forte que as diferenças". (disse
ele abraçado aos "irmãos"
católicos). Ironicamente o ministério "Diante
do Trono" está cada vez mais DISTANTE DO TRONO e perto da
apostasia!
Segundo
este documento sobre o ecumenismo, muitas igrejas protestantes tem desejado e
outras até sucumbido ao: "fraterno e
reverente abraço da igreja romana" e para piorar ainda
mais, alguns protestantes, que já não protestam mais, influenciados pela
sociedade pós-moderna estão desejando serem reconhecidos pelos "filhos" da igreja católica
romana como "irmãos". Permitam-me ilustrar
como estes usam do silogismo para justificar as suas falácias filosóficas:
1ª
Premissa:
Os
protestantes são filhos de Deus;
2ªPremissa:
Os católicos
romanos também; (premissa falsa)
Conclusão:
Logo,
protestantes e católicos são irmãos em Cristo.
A
falácia filosófica é um erro lógico de inferência, relacionamento ou conclusão.
Neste caso aqui, o erro lógico se encontra na 2ª premissa filosófica, que
afirma que os católicos romanos são filhos de Deus. A Bíblia assegura que: "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em
Cristo Jesus." (Gálatas 3:26) Mas eles vão tentar contra
argumentar dizendo: Mas Paulo não disse que há uma só fé? Nós não cremos no
mesmo Jesus Cristo? Então o que nos impede de mantermos comunhão com eles?
Paulo não nos exortou a mantermos uma unidade? Porque não podemos ter uma
igreja una? Eis aqui o grande desastre, de sorte que temos novamento mais um
erro, o semântico. A correta interpretação das Escrituras Sagrada nos leva ao
2º ponto:
II- ESTA
UNIDADE DEVE SER NO ESPÍRITO, E O QUE SIGNIFICA ISTO?
Dr.
Lloyd Jones proferindo uma palestra na Abadia de Westminster, falando sobre o
tema: A base da unidade cristã disse: "Para
que fique bastante claro, o apóstolo nos lembra de novo que se trata da unidade
do Espírito. Noutras palavras, é uma unidade produzida pelo espírito, e por
Ele somente. O homem não consegue produzi-la, por mais que tente. Por causa da
natureza desta unidade, porque é unidade espiritual, só pode ser trazida à
existência como resultado a operação do Espírito Santo.
O
que é que Paulo realmente ensina neste texto?
"Procurando cuidadosamente
manter a unidade do Espírito no vínculo da paz".
(Ef. 4:3 KJV).
"Procurando guardar
a unidade do Espírito pelo vínculo da Paz". (Ef. 4.3 Almeida Corrigida Fiel-SBTB)
"Solícitos en guardar
la unidade del Espiritu en el vínculo de la paz." ( Ef. 4:3 Santa Bíblia-Reina
Valera Gomez)
1º A unidade deve ser buscada de
forma cautelosa, em outras palavras, devemos buscar a verdadeira unidade com
base em critérios rigorosos. Notem que não versão King James traduz o vocábulo
grego τηρεω tereo para o português como: atender
cuidadosamente a, tomar conta de, guardar.
O
verbo usado neste versículo encontra-se no particípio presente, indicando que
devemos nos esforçar constantemente para manter
cuidadosamente a unidade, guardar
diligentemente a unidade. Ou seja; a ação contínua deve ser algo
submetido ao constante exame das Escrituras, em outras palavras, devemos sempre
nos perguntar: Estamos andando de acordo com as Escrituras? Não podemos negociar as verdades fundamentais
em nome da unidade, certamente que não era isto que Paulo tencionava dizer
aqui, ou nós andamos juntos com a verdade ou não haverá unidade nem comunhão
entre nós.
Comentário Bíblico:
O
Comentário Bíblico de Fracis Foulkes diz que alguns
interpretam a unidade do Espírito mencionada por Paulo, como uma espécie de
unidade espiritual da igreja, no sentido de que espíritos humanos são ligados,
onde quer que homens e mulheres se encontrem partilhando das coisas que possuem
em Cristo. Ele discorda desta ideia, afirmando que é certo que o
Apostolo Paulo, quando se referia em unidade de espírito, ele tinha em mente a
unidade como um dom de Deus, e que esta unidade, não é algo que possa ser
criado pelo homem, por esforços humanos, se não que sejam mantidos pela ação
soberana do Espírito Santo conduzindo a igreja, mas que lhe é dado(ao homem) a
responsabilidade preservá-la (a unidade) e de resguardá-la em face de muitas
tentativas de dentro e de fora da igreja de destruí-la.
Exegese:
"...Uma
só fé... (Efésios 4:5b)
deve ser buscada cuidadosamente, Paulo usa o vocábulo grego: unidade do Espírito ενοτης to peneuma, ENOTES TO PENEUMA. Notem que esta unidade do
Espírito Paulo usa para a tradução da palavra 1) unidade 2) unanimidade, consentimento. A clara
ideia no texto é que esta decisão unanime deve ser movida unicamente pelo
Espirito Santo, inclinada pelo Espírito Santo, não pelas opiniões erroneas, ou
até mesmo as sugestões de Satanás.
O afirmação de Paulo quanto a
unidade da igreja, somente subscreve a nossa declaração de fé sobre a Unam, Catholicam et Apostolicam Ecclesia
descrita no credo apostólico, e anexada a declaração de Fé da ALADIC capítulo
II, artigo J: "...E também para aceitar o Credo dos Apóstolos como
uma afirmação da verdade bíblica, incorporamos, portanto, esses artigos de
fé".
Credo Apostólico:
"... Creio no Espírito, na santa igreja universal (católica, cristã),
na comunhão dos santos..."
Esta definição de catolicidade é aquela descrita pela
Confissão de Westminster capítulo 25: seção I.
A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos
eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só
corpo sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que
cumpre tudo em todas as coisas. (Ref. Ef. 1: 10, 22-23; Col. 1: 18.).
Repudiamos
qualquer associação, comunhão com a igreja católica romana, reconhecemos e
subscrevemos ainda que existem:
Confissão de Westminster-Capítulo XXV-§ V:
As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro;
algumas têm degenerado ao ponto de não serem mais igrejas de Cristo, mas
sinagogas de Satanás; não obstante, haverá sempre sobre a terra uma igreja para
adorar a Deus segundo a vontade dele mesmo. Ref. I Cor. 1:2, e 13:12; Mat.
13:24-30, 47; Rom. 11.20-22; Apoc. 2:9; Mat. 16:18.
Finalmente,
precisamos rememorar o princípio da separação bíblica pelo qual os reformadores
foram bastantes claros, quanto a separação entre a verdadeira e falsa igreja e
identificar as marcas de uma igreja apostata:
Confissão de Fé Belga Art. 29:
Cremos que se deve discernir
diligentemente e com muito cuidado, pela Palavra de Deus, qual é a verdadeira
igreja, visto que todas as seitas, que atualmente existem no mundo, se chamam
igreja... Quanto
à falsa igreja, ela atribui mais poder e autoridade a si mesma e a seus
regulamentos do que à Palavra de Deus e não quer submeter-se ao jugo de Cristo.
Ela não administra os sacramentos como Cristo ordenou em sua Palavra, mas
acrescenta ou elimina o que lhe convém. Ela se baseia mais nos homens que em
Cristo. Ela persegue aqueles que vivem de maneira santa, conforme a Palavra de
Deus, e que lhe repreendem os pecados, a avareza e a idolatria.
A grande razão pela qual a igreja do Senhor está perdendo
esta batalha pela verdadeira unidade, é que ela (a unidade) não é do espírito, e
como terrível resultado disto temos o ecumenismo, concessões são feitas e as
verdades fundamentais do evangelho passaram a ser consideradas como
secundárias, a verdade é deixada de lado, em nome de uma pseudo-unidade, a frouxidão da igreja abriu as portas para o
mundanismo.
"Eis o grande desastre evangélico: a
negligência dos cristãos em defender a verdade como verdade. Há apenas uma
palavra para isso: acomodação. A igreja evangélica se acomodou ao espírito
mundano desta época". (Francis
Schaffer)
CONCLUSÃO:
Calvino
desejava manter a unidade da igreja reformada. Calvino sempre se demonstrou
solícito em dialogar e buscar a unidade dos protestantes. Em várias de suas
cartas, Calvino demonstra o desejo de ver as igrejas reformadas unidas,
encontrando um caminho para o diálogo entre as várias vertentes e cidades sob a
Reforma. Quando foi convidado pelo arcebispo Cranmer para uma reunião para
tratar a respeito das divergências da Ceia do Senhor, com o objetivo de fazer
um credo que fosse consensual para as igrejas reformadas, em sua resposta, a
certa altura, Calvino disse: “Estando os
membros da igreja divididos, o corpo sangra. Isso
me preocupa tanto que, se pudesse fazer algo, eu não me recusaria a cruzar até
dez mares, se necessário fosse, por essa causa” (1980, págs. 132-133).
É
claro que não se faria justiça ao ensino do reformador se fosse dito que ele
era um ecumênico nos termos atuais. Calvino foi um reformador, ele criou uma
igreja separada de Roma e não tinha a menor intenção de se reconciliar com o
papado. Calvino tinha uma fixação pela verdade e um rigor pela precisão
doutrinária. Ele com certeza não estava disposto a sacrificar a verdade pela
unidade. Que sejamos equilibrados em nossa busca pela unidade do Espírito,
Sabendo que se Deus é soberano e nos submetermos a ele, a verdade das
Escrituras nos fará convergir para um igreja santa, una, fundamentalista
bíblica.
Sola Del gloria!