quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Sermão Congresso da ALADIC no Brasil em Janeiro de 2015

Tema: Vigiai na batalha pela unidade do Espírito.
Rev. Luciano Gomes

Texto Base:

"1-Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados,2  com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, 3  esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; 4  há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; 5  há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6  um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos". (Ef.4:1-6)

Introdução:

            Creio que este é o tema mais discutido, e que recebe mais atenção atualmente dentro dos círculos protestantes, de todas as denominações cristãs no mundo, muitos são os livros escritos, as conversas informais, as pregações. É ponto pacífico e quase que um consenso que todos nós concordamos que a igreja Cristã, deve ser uma só, que o propósito soberano de Deus foi que ela fosse uma só: "Para nós, contudo, há um único Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem vivemos; em um só Senhor, Jesus Cristo, por intermédio de quem tudo o há veio a existir, e por meio de quem também vivemos". (I Co. 8:6). O próprio Senhor Jesus Cristo deu o exemplo análogo desta unidade quando disse: "... Para que sejam um, assim como somos um." (João 17:11b).  E portanto, devemos concordar que todos nós, devemos não só vigiar, mas batalhar pela unidade Espírito. 
           
        Além disto, é lastimável que a divisão tenha penetrado na vida da igreja, e mais, é preciso considerar que o cisma é um pecado grave. No entanto, é preciso também ponderar o fato de que há uma grande confusão e muito desacordo, quanto ao que realmente constitui a unidade, quanto a natureza da unidade, e finalmente como se deve obter e preservar a unidade.  Quais os limites da unidade? A que preço devemos buscar a unidade? Lutero disse: "A paz, se possível, mas a verdade a qualquer preço". E este deve ser o princípio norteador quanto ao tema unidade do Espírito.  Façamos algumas considerações: 

       I.            I-NÃO CONFUNDIR UNIDADE COM ECUMENISMO.

            No concílio Vaticano II de 21 de Novembro de 1964, a igreja Romana formulou um documento(decreto sobre o ecumenismo) conhecido como Unitatis Redintegratio, que em latim significa: "Restauração da Unidade" . Neste documento percebemos uma clara tentativa de ecumenismo, uma tentativa sutil de Satanás em fazer convergir entre católicos e protestantes pontos doutrinários completamente antagônicas a fé cristã. Notem nesta leitura do texto original a sutil sedução da igreja romana em promover uma pseudo-unidade:
Capítulo I: Ruptura da unidade da Igreja: laços de união entre todos os cristãos
            Nesta una e única Igreja de Deus já desde os primórdios surgiram algumas cisões, que o Apóstolo censura asperamente como condenáveis. Nos séculos posteriores, porém, originaram-se dissensões mais amplas. Comunidades não pequenas separaram-se da plena comunhão da Igreja católica, algumas vezes não sem culpa dos homens dum e doutro lado. Aqueles, porém, que agora nascem em tais comunidades e são instruídos na fé de Cristo, não podem ser acusados do pecado da separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor. Pois que crêem em Cristo e foram devidamente batizados, estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica. De fato, as discrepâncias que de vários modos existem entre eles e a Igreja católica quer em questões doutrinais e às vezes também disciplinares, quer acerca da estrutura da Igreja criam não poucos obstáculos, por vezes muito graves, à plena comunhão eclesiástica. O movimento ecumênico visa a superar estes obstáculos. No entanto, justificados no Batismo pela fé, são incorporados a Cristo, e, por isso, com direito se honram com o nome de cristãos e justamente são reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor.
            Destaquei alguns trechos do documento Unitatis Redintegratio e notei que algumas igrejas protestantes caíram na sugestão de Satanás, a exemplo disto vou citar as palavras de um pastor e cantor evangélico brasileiro conhecido como André Valadão da igreja Batista da lagoinha Rio de Janeiro, que em um show gospel junto com a banda de Rock católica Rosa de Saron disse: "... Aos olhos de Deus, somos todos irmãos... O amor daquele que nos une é mais forte que as diferenças". (disse ele abraçado aos "irmãos" católicos). Ironicamente o ministério "Diante do Trono" está cada vez mais DISTANTE DO TRONO e perto da apostasia!
            Segundo este documento sobre o ecumenismo, muitas igrejas protestantes tem desejado e outras até sucumbido ao: "fraterno e reverente abraço da igreja romana" e para piorar ainda mais, alguns protestantes, que já não protestam mais, influenciados pela sociedade pós-moderna estão desejando serem reconhecidos pelos "filhos" da igreja católica romana como "irmãos". Permitam-me ilustrar como estes usam do silogismo para justificar as suas falácias filosóficas:
1ª Premissa: 
Os protestantes são filhos de Deus;
2ªPremissa:
Os católicos romanos também; (premissa falsa)
Conclusão:
Logo, protestantes e católicos são irmãos em Cristo.

            A falácia filosófica é um erro lógico de inferência, relacionamento ou conclusão. Neste caso aqui, o erro lógico se encontra na 2ª premissa filosófica, que afirma que os católicos romanos são filhos de Deus. A Bíblia assegura que: "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus." (Gálatas 3:26) Mas eles vão tentar contra argumentar dizendo: Mas Paulo não disse que há uma só fé? Nós não cremos no mesmo Jesus Cristo? Então o que nos impede de mantermos comunhão com eles? Paulo não nos exortou a mantermos uma unidade? Porque não podemos ter uma igreja una? Eis aqui o grande desastre, de sorte que temos novamento mais um erro, o semântico. A correta interpretação das Escrituras Sagrada nos leva ao 2º ponto:


II- ESTA UNIDADE DEVE SER NO ESPÍRITO, E O QUE SIGNIFICA ISTO?
            Dr. Lloyd Jones proferindo uma palestra na Abadia de Westminster, falando sobre o tema: A base da unidade cristã disse: "Para que fique bastante claro, o apóstolo nos lembra de novo que se trata da unidade do Espírito. Noutras palavras, é uma unidade produzida pelo espírito, e por Ele somente. O homem não consegue produzi-la, por mais que tente. Por causa da natureza desta unidade, porque é unidade espiritual, só pode ser trazida à existência como resultado a operação do Espírito Santo.
            O que é que Paulo realmente ensina neste texto?  "Procurando cuidadosamente manter a unidade do Espírito no vínculo da paz". (Ef. 4:3 KJV).
"Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da Paz". (Ef. 4.3 Almeida Corrigida Fiel-SBTB)
"Solícitos en guardar la unidade del Espiritu en el vínculo de la paz." ( Ef. 4:3 Santa Bíblia-Reina Valera Gomez)
1º A unidade deve ser buscada de forma cautelosa, em outras palavras, devemos buscar a verdadeira unidade com base em critérios rigorosos. Notem que não versão King James traduz o vocábulo grego τηρεω tereo para o português como: atender cuidadosamente a, tomar conta de, guardar.
            O verbo usado neste versículo encontra-se no particípio presente, indicando que devemos nos esforçar constantemente para manter cuidadosamente a unidade, guardar diligentemente a unidade. Ou seja; a ação contínua deve ser algo submetido ao constante exame das Escrituras, em outras palavras, devemos sempre nos perguntar: Estamos andando de acordo com as Escrituras?  Não podemos negociar as verdades fundamentais em nome da unidade, certamente que não era isto que Paulo tencionava dizer aqui, ou nós andamos juntos com a verdade ou não haverá unidade nem comunhão entre nós.
Comentário Bíblico:
            O Comentário Bíblico de Fracis Foulkes diz que alguns interpretam a unidade do Espírito mencionada por Paulo, como uma espécie de unidade espiritual da igreja, no sentido de que espíritos humanos são ligados, onde quer que homens e mulheres se encontrem partilhando das coisas que possuem em Cristo. Ele discorda desta ideia, afirmando que é certo que o Apostolo Paulo, quando se referia em unidade de espírito, ele tinha em mente a unidade como um dom de Deus, e que esta unidade, não é algo que possa ser criado pelo homem, por esforços humanos, se não que sejam mantidos pela ação soberana do Espírito Santo conduzindo a igreja, mas que lhe é dado(ao homem) a responsabilidade preservá-la (a unidade) e de resguardá-la em face de muitas tentativas de dentro e de fora da igreja de destruí-la.
Exegese:
 "...Uma só fé...  (Efésios 4:5b) deve ser buscada cuidadosamente, Paulo usa o vocábulo grego: unidade do Espírito ενοτης to peneuma, ENOTES TO PENEUMA. Notem que esta unidade do Espírito Paulo usa para a tradução da palavra 1) unidade 2) unanimidade, consentimento. A clara ideia no texto é que esta decisão unanime deve ser movida unicamente pelo Espirito Santo, inclinada pelo Espírito Santo, não pelas opiniões erroneas, ou até mesmo as sugestões de Satanás.  
            O afirmação de Paulo quanto a unidade da igreja, somente subscreve a nossa declaração de fé sobre a Unam, Catholicam et Apostolicam Ecclesia descrita no credo apostólico, e anexada a declaração de Fé da ALADIC capítulo II, artigo J:  "...E também para aceitar o Credo dos Apóstolos como uma afirmação da verdade bíblica, incorporamos, portanto, esses artigos de fé".
Credo Apostólico:
"... Creio no Espírito, na santa igreja universal (católica, cristã), na comunhão dos santos..."
            Esta definição de catolicidade é aquela descrita pela Confissão de Westminster capítulo 25: seção I.
A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas. (Ref. Ef. 1: 10, 22-23; Col. 1: 18.).
            Repudiamos qualquer associação, comunhão com a igreja católica romana, reconhecemos e subscrevemos ainda que existem:  
Confissão de Westminster-Capítulo XXV-§ V:
As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro; algumas têm degenerado ao ponto de não serem mais igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; não obstante, haverá sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade dele mesmo. Ref. I Cor. 1:2, e 13:12; Mat. 13:24-30, 47; Rom. 11.20-22; Apoc. 2:9; Mat. 16:18.
            Finalmente, precisamos rememorar o princípio da separação bíblica pelo qual os reformadores foram bastantes claros, quanto a separação entre a verdadeira e falsa igreja e identificar as marcas de uma igreja apostata:
Confissão de Fé Belga Art. 29:
Cremos que se deve discernir diligentemente e com muito cuidado, pela Palavra de Deus, qual é a verdadeira igreja, visto que todas as seitas, que atualmente existem no mundo, se chamam igreja... Quanto à falsa igreja, ela atribui mais poder e autoridade a si mesma e a seus regulamentos do que à Palavra de Deus e não quer submeter-se ao jugo de Cristo. Ela não administra os sacramentos como Cristo ordenou em sua Palavra, mas acrescenta ou elimina o que lhe convém. Ela se baseia mais nos homens que em Cristo. Ela persegue aqueles que vivem de maneira santa, conforme a Palavra de Deus, e que lhe repreendem os pecados, a avareza e a idolatria.
            A grande razão pela qual a igreja do Senhor está perdendo esta batalha pela verdadeira unidade, é que ela (a unidade) não é do espírito, e como terrível resultado disto temos o ecumenismo, concessões são feitas e as verdades fundamentais do evangelho passaram a ser consideradas como secundárias, a verdade é deixada de lado, em nome de uma pseudo-unidade,  a frouxidão da igreja abriu as portas para o mundanismo.
"Eis o grande desastre evangélico: a negligência dos cristãos em defender a verdade como verdade. Há apenas uma palavra para isso: acomodação. A igreja evangélica se acomodou ao espírito mundano desta época". (Francis Schaffer)

CONCLUSÃO:
            Calvino desejava manter a unidade da igreja reformada. Calvino sempre se demonstrou solícito em dialogar e buscar a unidade dos protestantes. Em várias de suas cartas, Calvino demonstra o desejo de ver as igrejas reformadas unidas, encontrando um caminho para o diálogo entre as várias vertentes e cidades sob a Reforma. Quando foi convidado pelo arcebispo Cranmer para uma reunião para tratar a respeito das divergências da Ceia do Senhor, com o objetivo de fazer um credo que fosse consensual para as igrejas reformadas, em sua resposta, a certa altura, Calvino disse: “Estando os membros da igreja divididos, o corpo sangra. Isso me preocupa tanto que, se pudesse fazer algo, eu não me recusaria a cruzar até dez mares, se necessário fosse, por essa causa” (1980, págs. 132-133).
            É claro que não se faria justiça ao ensino do reformador se fosse dito que ele era um ecumênico nos termos atuais. Calvino foi um reformador, ele criou uma igreja separada de Roma e não tinha a menor intenção de se reconciliar com o papado. Calvino tinha uma fixação pela verdade e um rigor pela precisão doutrinária. Ele com certeza não estava disposto a sacrificar a verdade pela unidade. Que sejamos equilibrados em nossa busca pela unidade do Espírito, Sabendo que se Deus é soberano e nos submetermos a ele, a verdade das Escrituras nos fará convergir para um igreja santa, una, fundamentalista bíblica.

Sola Del gloria!

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Sola Escriptura

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Ser um Cristão reformado é está interessado em se reformar sempre.É prezar pelos princípios da reforma, e estar disposto a adaptar toda a vida e teologia ao exame final das Escritutras.